sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

USO DE SERPENTES


serpentários
uso de serpentes
sua forma lisa de ser espanto
forma lisa de estancar as palavras
sua forma lisa de empoleirar o mundo

sem nascer
olho de cobra na órbita
música de sibilos

órfica
natural dos pobres navegando em cacos dentes

pluralidade dos santos
enganos
antes
do cadafalso sem remédio

sombras adúlteras escombros de luzes

na cena

cuidados:

ferem árvores extintas foro de usos de tintas

nos foscos olhos amarelos

sombram e aduanam peixes
anfíbios degolados
fortes tempestades na solidão
da serpente alada

na noite que arde
uma noite antes do fim
um fogão aceso cometas cotos cortados
mariposas riem do mundo

um dedo que respira
antes de nascer a serpente
pressente
o seu rumor ao voo das estacas

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

ONTEM


na noite nada clara
os montes em chamas chamam os ombros
amigos e amigas sonham uvas e ursos
yndiara e eu caminhamos pelas chamas

as dores flamam pesares
e  a voz que julga os verbos retoca
as vozes completas no país que é noite

o sol custa a nascer e nós nascemos
com as mãos dilaceradas pela mulher que se diz ontem

ontem
esteve na noite feroz com dentes
e voz
a noite cumpre navegar nas temperaturas
e nos roubaram os frutos sem termos fome

torturas atrozes esta mulher
antes de ser filha tem filho nenhum
sorri para outros chorarem
resguarda a face para nascerem meninas mortas

portas abertas e fechadas
curvas na lua na resma de pólen
sem flores ou amores

ela nos rouba a paz na violência
animal dizendo nas fezes circunstâncias
de sonos

só abre as portas e janelas incriminando
os minerais   as flores     os animais
sem perceber a farsa de suas facas
mutiladas
ela vislumbra o projeto de sombras
e colhe na vanglória a fome

sorri e sorri
sem ter hora
sem postergar as faces rosadas
meninas desiguais e inflamadas

gatos pululam e postam
mensagens de ontem em nossas caixas postais
rivalizando os ossos amigos

ela prejudica a chuva e teme
pelo sol desaparecido sem rumor ou sombra
sorri e naufragamos
em nossa carne sem voz

yndiara e eu percebemos as variações
o som das mudanças
no ciclo parado
o cenho desfeito   desfolhado   a fase primeira
da lua última

a face antes de desmoronar a nascer parado

custa perdurar na soleira e nas fachadas
das fechaduras
custa precisar o respeito pelas luvas antes dos crimes
uvas quadradas  quadriculadas pensam em nada
explodir as fachadas do céu sem estrelas

ontem a mulher no telefone
e coisas absurdas a seu filho nenhum diz
coisas absurdas completam seu nome de espera

os gatos partem para não dormir
os pássaros pensam que o véu do voo lhes sorri
não entendemos a captura
a morte no chão e os músculos
treinados pela ventania

ontem foi ontem na temperatura
desigual
fazendo-se milhas de distância
e procuras além

a fome dos pães célebres
eu e yndiara soubemos
e entendemos a face
de ontem
ela nada precisa  entender:

sua
voz
pronta a nascer
e a mentira
e as verdades amadurecidas e podres
preenchem  os espaços rancorosos

ontem enterrou a mãe
e hoje quer distender os braços
para não haver mais sinais

torturas feitas de voz
uvas passadas
a fome das mortes na procura
e ilhas e sóis
o nascer do sol na sintonia
de nascermos sós

eu e yndiara esquecemos
e ontem foi ontem   foi ontem
e não temos garantias
que saibam prever
o sol
lá que se ironiza
atrás das nuvens