domingo, 22 de março de 2009

FLOR

MÃE ROSA

Mãe, sente - se nesta penumbra. Console-se.
Viúvas nascem nos olhos
que partiram comigo.
Mãe, console - se. Tua figura transforma- se
num grito, na dor
de quem faz dos ninhos de pássaros
vazios.
Não olhe para si mesma. Acontece com os que te deram
a frescura de uma brisa, o odor de rosas trêmulas,
a voz de quem nasceu ontem.
Não sou tua filha? Não te quero o melhor, mãe Rosa?
Minhas mãos são pequenas e as janelas abertas
vivem no teu coração formoso.
As horas claudicam, como neve que nunca vimos,
como cães bravos frente a uma poça de vidro.
Mãe, mãe- sonhaste ontem comigo? E
teu amor deveras veraz surgiu nas brumas do amanhecer?
Conta. Venha para o leilão dos bens que não temos.
Para além do que queremos.
Mãe, te suplico, roda o anel entre
teus dedos e
os derrube nos lamentos!
E depois se erga, na noite fria, e rancorosa,
anote as aflições do teu povo. Mãe Rosa,
aconteça nos dias e chega devagar nas horas,
nas ruas em que os autos se embebedam,
e os bêbados correm para nada. Não lhes dês
para as constelações,
o roubo da dor
num perfume cálido de jasmins, ou de tuas pétalas;
despetale -se nas ruas de minha cidade em cruzes,
em anos, em meses
que nunca acabaram.
E depois, minha mãe, se sinta forte na reentrância dos homens.
Nunca espere as vozes másculas despistar o valor das chamas,
ou o despertar dos navegantes que não
param de acordar...

Mãe, confia nesta tua filha. Tenho amores que não compreendo e sorrir
é o suplicio, como apalavrar com o vento que não sabe palavras...

Sê firme neste dia, já de noite, nesta ira dentro das pernas que cansaram sem saber.

Ponho minha mão, mãe, e respiro. Uma, duas vezes respiro para não
me naufragar.
E depois o instinto de borboleta vai colorir de seca um novo oásis.

Não, mãe, me repito para persuadi - la em viver.
Nome que tens no vestido, no corpo que esquentou
vários dias. Horas que circundavam os ritos de passagem.
Para começar um dia, repito como os ventos se abriam.
E depois tomo o café que tu fizeste,
para não matar a sede, mas para um claro capricho.

Mãe, não te vás. A vida te espera
sem que tu soubesses, sem regras, nem cortinas, nem pássaros
que começam de novo a voar. Sabes, para onde?

Continua com minhas irmãs sempre perguntando: Até quando?

A senhora, mãe, que agora és vento e frescor de alfombras,
cânhamos e papiros. És o perfume em tremenda ausência.
És nada mais do que uma sombra.

E estou cansada, minha mãe, de te embalar em meu colo de ar
de te fazer nascer a bondade de ouvir.
Soturnamente esqueço o balanço das ondas,
e agora podemos dormir.