quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

TRIGAIS

TRIGAIA


O pão que comemos
 nele não vemos
 os imensos trigais.

 As águas dos rios,
dos lagos, dos mares,
a tempestade e o furor;
a gota de orvalho
que há numa flor,
que faz dos teus olhos
escorrer uma lágrima
 - nem isso não vemos.

Os filhos, a terra,
a estupidez de uma guerra;
a doença e a fome,
os desenganos e os sonhos,
e a nossa mão
que não toca no ombro
do nosso irmão
 - disso também nos olvidamos.

Para esquecer
a tarde que chega,
o tempo que esvai,
o cansaço do dia,
comemos o pão
quietos na mesa,
 tendo certeza
que nele não vemos
os imensos trigais.