quinta-feira, 7 de outubro de 2010

DEFESA DO LOBO CONTRA OS CORDEIROS


Querem que o abutre coma miosótis?
o que exigem do chacal?
do lobo, que mude de pele? Querem
...que ele mesmo extraia seus dentes?
O que é que não apreciam
nos comissários políticos e nos papas,
porque olham, feito burros,
o vídeo mentiroso?

Olhem-se no espelho: covardes,
temendo a fadiga da verdade
sem vontade de aprender, entregando
o pensar aos lobos
um anel no nariz como adorno preferido,
nenhuma ilusão burra o bastante, nenhum consolo
barato o suficiente, cada chantagem
ainda é clemente demais para vocês.

Ó cordeiros, irmãs
são as gralhas comparadas a vocês:
vocês se arrancam os olhos uns aos outros.
Fraternidade reina
entre lobos:
andam em alcateias.

Louvados sejam os salteadores: vocês
convidam para o estupro
deitando-se no leito preguiçoso
da obediência. Mesmo gemendo
vocês mentem. Querem
ser devorados. Vocês
não mudam o mundo.


(Hans Magnus Enzensberger)

domingo, 3 de outubro de 2010

O SURREALISMO É UM DENTIFRÍCIO







DEDARAM A MÃE. Filha da pura gama de uma espelunca.
Plínio, satisfeito, roubou cimento e o cascalho
nasceu com a fossa negra
nas entranhas de uma terra.
A mãe sacudiu o corpo.
Presenteou sua face murcha, em breve horizonte de planos,
em alguma andança desigual e feroz, no dia.
A suarenta medusa introduziu um dedo.
Parecia que cortava por dentro.
A fome especulava milhões em gastos públicos.

Poesia não é para ontem, diziam.
É para amanhãs, e perfazia o ciclo menstrual
de cotilédones plenos.
Presos em seu sêmen e nos dedos de menos.

A vida, esta que se pratica, rompe a estardalhada do absurdo.
Prenhe revela- se anormal.
Mas quem não o é?

Somos uma plantação de alto risco. Imagina
se a polícia nos pega
plantando além de tudo, milho? Erva?...

E as vozes de Plínio roubaram sua cena.
Inverta o desgosto.
Um punhado de homens capturou as guelras dos Príncipes Submarinos.
Para, para- tem conversa que nunca precisava começar no infinito...

E onde é que aviões  de descargas descarregam
as fezes dos notívagos? Aeródromos contíguos? Em noites em desuso, desiguais  e peludos?

Sorri. Entendi. Minha cena era um
quarto crescente- e Plínio era o duque dos termostatos,
sem aparentes desiguais. De tudo
o mais que enfiem os dedos.
basta mergulhar no somenos.
Nos pesos... E guiar  a agulha dos ventos
em ventos que guiam as viúvas.

Rajada de metralha.

(Haja afasia generalizada, nas utopias que enchentam as pias!...)