sábado, 11 de dezembro de 2010

Poeta tentando colher a lua, com dois cães






















 Acrílico sobre painel- Nestor Lampros-2002

JANTANDO COM DEUS E CUSPINDO NAS ESTRELAS

               
Cheguei cedo na Casa das Rosas para participar das Quintas Poéticas, esta "Quinta" ,especialmente, na primeira quinta feira do mês de dezembro. Geralmente é feita a "Quinta" na última quinta  do mês;  porém, como as festividades de fim de  ano esse dia  foi adiantado.
O tempo estava tempestuoso. Muitas nuvens e muito vento. Um dia de calor em São Paulo. Estava suando. Mas as perspectivas de ver os poetas e interagir com eles  foi maior do que expectativa do calor na minha pele. Era  a segunda vez que fui convidado para as Quintas Poéticas.  A primeira vez foi em 2009.
Entrei pelos portões da casa. Fui diretamente para o café.
É loucura tomar café nesse calor? Não penso  assim. Para me controlar com a nervosismo  do caldo doce e quente me fizeram contentes e calmos, como de costume.
Depois encontrei-me, dentro da Casa das Rosas,  com o  Edson Bueno de Camargo, de Mauá. Tipo gordinho e feliz com a vida. Poeta de primeiro quilate e como verbo solto e esperançoso. Sua esposa a Cecília e sui filha, ambas arte-educadoras, conversaram comigo. Cecília é fotógrafa, iria gravar o sarau. Perguntei a Edson  sobre os prêmios literários. Disse que não sabia quando receberia o prêmio de dez mil reais de São Bernardo do Campo. Mais fácil fazer um poema e ganhar competindo do que receber dos órgãos públicos...
Depois  veio o José Geraldo Neres, que mora em Santo André,  sujeito simpático e com uma verve grande. Ele, Neres, é o atual curador das Quintas, depois que o poeta Celso de Alencar declinou do cargo. Saudade do Celso,  com suas ”cento e onze picas” e outros poemas, perfazendo com a temática nada convencional. Ele não pode ir porque iria a um lançamento de um livro do filho de Eunice Arruda-  Celso fez o prefácio do livro.
 Neres estava acompanhado de sua esposa. Disse que o sarau começaria ás 19:00h. Então subimos pelas escadarias e fomos para a sala. Ele foi muito simpático, dando – me um livro seu, “Outros Silêncios”, delicioso livro de poemas que em sua abordagem envolve-nos em suas imagens e conteúdos sonâmbulos.
Por lá encontrei com meu primo o Kyoshi e sua namorada, a Natasha. Encontrei-me ainda como Gadelha o editor-dono das Escrituras. O mestre Cláudio Willer, o ás do Surrealismo, o maior entendido do Surrealismo nas Américas. Outras pessoas simpáticas e igualmente atentas estavam  acompanhando-nos. E mais um pouco reconheço o Roberto Bichelli, também convidado para recitar  seus poemas,  com sua fleugma nada britânica  e sua barba e cabelos brancos e olhos extremamente azuis.
A primeira coisa engraçada que ocorreu foi quando eu agradecendo a  todos esqueci-me do nome do Bicheli. E ele disse sem pestanejar: -Drummond! Eu continuei dizendo “Drummon isso e aquilo” para Bichelli...foi engraçado.  Outra coisa foi ele me querer me “ajudar”com meus poemas, querendo recitar um. Dei-lhe um poema que escangalhava o eu lírico ao longo dos versos. Ele ia lendo preocupado, preocupado...mas no último verso este deixava “tudo quites!”, sorte minha...
Edson recitava seus poemas plenos em imagens e numa forma de corredeira que ia explicitando versos com lagartos e pleno de cenas perturbadoras mas bonitas.
O sarau transcorreu sem percalços. Eu reduzi minha participação porque  Bichelli quis desnudar-se  com seu diário que ele fez nos anos idos de 60 quando fez uma viagem para o nordeste. Era um caderno com capa vermelha, velhíssimo, com folhas que iam se soltando como as folhas no outono em pleno verão da Paulista. Era um Bichelli outonal com suas histórias ainda por se fazerem na arte-final  nas mãos de  um diagramador.
 Uma parte  que deu-nos um aspecto emotivo e emocionante: uma carta que o poeta Roberto Piva mandou-lhe nos anos de 1980: nela o grande poeta Piva dizia do  encanto do posterior encontro com seu xará, Bichelli. Ficamos emocionados quando  Bichelli, não suportou dada a emoção em ler a carta e pediu  a  Neres para o ajudar. Neres concluiu a carta e ficou no ar o final bem ao estilo de Piva: “...amigo, jantaremos com Deus e cuspiremos nas estrelas...”

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

CORRIDAS


 
Sem tempo para gastar
Sem aplausos para encontrar
Sem palavras para te dar
Sem alegrias para romper
Sem saber onde dormir
Sem causa para  espantar
Sem vento para naufragar
Sem, portanto, sorrisos para vagar
Onde encontrar o sublime, sem sublimar?