sábado, 28 de novembro de 2009

Floresta

Autorretrato aos vinte anos

Sobre Nestor Lampros

Talvez o grande público ainda não tenha ouvido falar a respeito do poeta Nestor Lampros. Nós aqui de Atibaia, que temos o privilégio e a satisfação de conviver com ele, conhecemos o seu talento lírico há muito tempo. Em nossa cidade, poesia e Nestor Lampros são praticamente sinônimos e, embora ele seja ainda jovem, pode-se dizer que já é um veterano do verso, pois os escreve há mais de vinte anos.
O estro poético de Nestor Lampros prima pela originalidade. Esqueça toda poesia que você já leu. Mesmo em Rimbaud, Apollinaire e Walt Whitman, onde sentimos a cada instante uma lufada de ar fresco e original, se comparados ao brasileiro, temos a impressão de que estamos apenas diante de uma brisa da tarde. Nestor é um tufão lírico. Aqui, as referências são outras e, para compreender a pujança e riqueza de seus versos, é preciso despir humildemente todo e qualquer preconceito com relação ao novo. Pois a poesia de Nestor Lampros é isso, uma avalanche de criatividade, ligações inusitadas e imagens extravagantes, muitas vezes, beirando a genialidade. Dotados de uma beleza extraordinária e incomum, os seus versos pulsam, agitam-se, fremem de vida e desconcertam o leitor a tal ponto, que este se vê completamente subjugado, absorto, contemplativo. Além disso, uma outra qualidade vem se unir ao seu engenho de artista, que é o ofício laborioso e incansável em busca da perfeição. Obcecado pela forma exata, Nestor martela seus versos até que fiquem como deseja. Ninguém se encaixa tão bem quanto ele à imagem do poeta forjando versos, criada por João Cabral. Apaixonado pelos livros, estudioso, artista premiado, se ainda Nestor Lampros pertence apenas aos atibaienses, em breve será um patrimônio de todo o Brasil.

José Antônio Martino é poeta e contista premiado em vários concursos. É romancista e pesquisador literário.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

DESFAZENDO – SE

Tive que me desfazer do aparelho de som, depois minha televisão. A seguir desfiz-me das panelas, e das roupas mais caras. Parece que tudo compreende que devo me desfazer dos perfumes de minha mulher, da bicicletinha de minha filha. Desfiz – me também da geladeira, do fogão de casa, dos chuveiros, das toalhas, que minha mulher bordara, do sabão, das roupas sujas e usadas... desfiz – me dos sofás, das camas, dos retratos familiares, mesmo sem saber a quem serviriam... garfos, facas, aparelhos da cozinha. Dos dois cães e um peixinho( eu nunca gostei deles...).

Nunca satisfeito desfiz – me de minha mulher- me rendeu um preço considerável... Minha filha? Desfiz – me dela na noite em que aluguei um carro para levar o que sobrou de casa. Enfim, desfiz – me de tudo quanto pude e depois quando não sobrou nada, além de uma casa vazia, desfiz – me de mim mesmo. Isto por conta da cocaína, que me roubou tudo, e a vida veio me pedir algo além para me desatar.

Minha cova se fez rasa e morri sem mesmo ter alguém para chorar. Levaram minhas lágrimas nos olhos dos outros. Só uma observação e quem a fez foi o demônio. Ele ali todo de negro ao lado do meu esquife:

“Era um bom cliente, pena que vai se desfazer...”