quinta-feira, 2 de julho de 2009

MÁRIO LEIRIA NO TRAÇO DE LUKAS LAMPROS

Para Lukas Lampros, o grego japonês que vive nos trópicos

São Paulo, agosto de 1970

Olha, Lukas,
a saudade que temos
nas mãos
é saber que nascemos como irmãos
como nasce de repente
um antigo, solitário, quente
porto de mar e de distância.

Quando viramos o olhar
para alguém
sabemos que, além,
nos está olhando o mar.

O Mediterrâneo
que nos deu a forma
e o Atlântico álgido
que nos deu a solidão.

Saber e conhecer a norma
dum mito instantâneo
que está ao nosso lado
e tão distante
que se vai perdendo na imensidão.

Um cais
é memória feita de partir
e um navio que vai
somos nós que pensamos ir
até ao caminho que nos dá
o mar distante
enterrado nas imagens
que sempre nos ensinam o que há.

Ir e vir
e estar e ser e não ficar
e procurar o mar
mesmo na montanha e no gelo
e por procurar
encontrar o distante mar.

Sabê-lo
Sempre tão próximo que
lá vamos nós Lukas
lá vamos nós
pró mar...

(Poema inédito, manuscrito, encontrado no espólio de Mário-Henrique Leiria,
na Biblioteca Nacional de Portugal. BN E22/16 - A ser publicado futuramente
pela editora Assírio&Alvim, quando da edição da obra completa do autor)

ESTE POEMA É UMA HOMENAGEM QUE ESTE LUSITANO FEZ AO VELHO LOBO DO MAR, LUKAS LAMPROS, MEU PAI. É INCRÍVEL QUE ELE O TENHA PENSADO COMO POEMA, RESULTADO DAS INÚMERAS CONVERSAS ENTRE OS DOIS. FOI ACHADA POR UMA MOÇA,( QUE ESTÁ REALIZANDO UM ESTUDO SERÍSSIMO DO ESPÓLIO DE LEIRIA) QUE NOS CONTACTOU UM DIA FALANDO QUE ESTAVA MUITO INTERESSADA EM CONVERSAR COM MEU PAI. AÍ VEIO O DIA EM QUE ELA NOS MOSTROU O POEMA. MEU PAI FICOU EMOCIONADÍSSIMO... É BELO, BELÍSSSIMO,MESMO. AGORA ESTÁ, PARA QUEM GOSTA,UM POUCO DA OBRA DE LIRIA ESTÁ NO CALIGRAFIA, PARA QUEM QUER SABOREÁ-LA. BOM PROVEITO!

RAUZITO,CAZUZA, CÁSSIA ELLER E RENATO RUSSO

- Venho por meio desta dizer que a espécie humana está fadada a desaparecer, e só irá ficar aparecendo os dedinhos dos pés. Nada mais de homens poderosos que mandam e desmandam e mulheres que afagam as cabeças dos desusados anaforicamente. Nada de crianças que jogam videogame e depois que crescem um pouquinho, continuam jogando e jogando... até serem pilotos de caça, e, jogando agora os videogames de bombas, por impaciência, por não gostarem de rios de mares e de cachorrinhos e por isso se alegram...de não se encontrarem mais nem como crianças, nem como homens e mulheres, mas como membros da milícia dos EUA, soltam bombas e arrasam tudo. Sobram os velhos que permanecem intactos nas suas redomas de vidro, de aparelhagens de laboratório, de percussão, de legítimos tragos de uísque, e nenhuma bomba de chocolate, por causa do diabetes.

- Aplausos para Rauzito!!

- Nenhum marinheiro que irá acender o facho da canção de ninar para boi dormir. Nenhuma calça para se vestir no domingo. Estou farto de aparecer com os lábios em cofre, não podendo contar segredos, como um bom dia, como um como você está? um tudo bem? um abraço, com um abraço bem dado... Renato, aqui no céu dos músicos está cada vez mais pasmo e fala para Cazuza com a Cássia tomando uma e outras, que nós não nos emendamos mesmo, não é Cássia?

- E não vai ser mais assim, pois Deus quer que eles voltem como empresários e famosos militares, nos EUA, Renato, mas sem esquecer o que foram no Brasil! A gente compõe música de protesto e vamos fazer um Woodstock neoliberal apimentado com socialismo pós- moderno.

- Mas será possível Zuzinha? A Cássia não vai gostar dos almofadinhas.

- Mas é para sermos revolucionários, e eu como Renato Russo me importo, porque se não podemos contra eles sejamos com eles... É perigoso, pessoal, visto que tomei o néctar da uva aqui no bar de São Pedro, e vi que Jesus está olhando com aquele olhar de quem quer que sigamos o Apo, - o quê?

- Apocalipse, oras, gente boa. Revelação. Tá na cartilha aqui do céu. Vocês não estudaram?

- Ainda não, Cássia. Eu e o Renato estamos confusos ainda com o Brasil. Até esquecemos quem nós não somos e precisamos logo não saber nunca mais. Isso é fácil de não saber, meus amiguinhos. Pois aqui, no paradiso lost, como no Brasil tudo é possível, não é mesmo?...