domingo, 20 de dezembro de 2009

NÃO QUERO

Não quero ser o sujeito que entrou
Com as mãos limpas
E se descuidou das batalhas lindas.
Não quero poder emprestar a minha voz a quem ousou
Desempenhar melhor de quem foi roubada a voz
Dos planos nascedouros.
Não quero ser um gigante morno, sempre que a ternura dos colossos
Forçarem minhas reentrâncias.
Não quero nascer de novo sem saber o odor das flores do meu esquife.
Não quero receber os homens em minha casa
me acusando de coisas cometidas sem qualquer razão, ou perdão, ou sono.
Não quero acompanhar os astros brilhantes antes da madrugada.
Não quero ouvir que sapos bufantes amargarem meus filhos antes da chegada do
Nosso principal outono.
Não quero me constituir em ilha, não quero me refazer
rapaz, não quero sair fora do circuito,
Embora fora do círculo
As mães cantem de ninar a seus filhos.
Não quero me hospedar nas retortas alfandegárias de qualquer país.
Não quero saber de normas, que não me habilitem a andar com os dois pés no meu chão.
Não quero ser o responsável por políticos que mandam castrar os jovens na
Nova-velha deseleição.
Não quero ser o principal alento da sociedade sem esperanças.
Não quero questionar as andanças dos fortes, embora todos jazam mortos sob minha mesa.
Não quero, não posso, não espero o amor de alguém que não sabia que me trazendo flores participava da minha ilusão e afogamento,
Da minha fome em encarregar aos vivos
A dissolução do espírito.
Não posso crer, se já criram demais na face da terra, e me deixaram os ossos para que os tocasse, fêmures-flautas para que outros dançassem.
Não. Não quero e não posso delimitar estradas, marcos, planos, cantos do mundo,
Pois nasci vivo e não escolho meus destinatários, vento além, vento aquém,
Na opressão, diária, na supressão dos nomes, no cadáver escondido nas vozes dos armários.


Poema, depois de Euclides Sandoval.