terça-feira, 14 de setembro de 2010

MINHA VISÃO DAS COISAS NA ARTE



 Minha pintura nada mais é do que a resposta às perguntas frequentes sobre o que fazemos, no campo das artes, sobre  a vida que levamos.
Deram várias respostas a isso, sei, mas nada mais corajoso do que formular  a pergunta principal: “ O que fazer de novo na pintura, já que tudo, parece, está feito e exaurido porque acabado?”
Nada mais comum do que silenciar e ser um mero apreciador das artes do já-feito. Porém eu me disponho a refazer perguntas universais e tento respondê-las com meu trabalho.
Trabalhoso trabalho, sem pleonasmos, porém com aplicação redobrada, ponho em cheque o que permanece à vista das pessoas que há muito  acompanham minhas atividades artísticas.

Assim, reordeno a realidade, nas minhas pinturas, percorrendo nada mais nada menos do que uma vida dedicada à arte da pintura e dos desenhos, em relação à profundeza humana e tento encontrar nas essências da intuição  substancias para responder minhas indagações sobre a vida e as pessoas que são acompanhantes nesta vida.
Acho que naturalmente a vida vai dando respostas providencias às nossas perguntinhas tipo: o que fazer se tudo não exige inquirições? Ou, O que fazer em face dos meios massacrantes da comunicação que apesar da multiplicidade levam invariavelmente ao descaso, à alienação, ao pesar por conta das várias violências sofridas neste mundo. E o que nos reserva sem pensar sobre estas coisas?

Acho que as respostas a isto tudo no fazer constante, disciplinado, e motivador: ao ver meu atelier abarrotado de quadros sem o devido escoamento, felicito-me pela abundância de coisas, mas, ao mesmo tempo, tenho a ânsia de criar. De uma maneira selvagem, articulando no meu interior, a pintura reflete uma harmonia, comigo e com o cosmos. Tenho uma ânsia em compartilhar, também.  Não me sinto mais peregrino nessas andanças pelo mundo e  as pessoas me são caras porque são objetos de minha pesquisa crítica sobre tudo e todos. E nunca estou só. Apesar de estarmos, na contemporaneidade pós-moderna, nada existe sem as perquirições sobre o que fazemos no aqui  e agora. Gosto de dizer que o artista que não for de sua época não é de nenhuma outra. Picasso já nos disse algo assim. E ver que os mestres do passado ainda pulsam em seus quadros, esculturas  e demais obras, estão vivos e nos falam, ainda, de uma forma viva e espirituosa. Meus queridos companheiros são os autores que procuramos tentar não ver. Se não, nas apostilas de um livro que enfeiam a vida tentando substituir com cópias imperfeitas as obras vivas daqueles “mortos” que sobrevivem nos museus e galerias. Não sou purista nem burro em afirmar que as reproduções não são importantes, mas acontece que nada explica o contato com a obra de um autor que utilizou seu corpo e mente, suas aspirações e sentimentos ao usar o pincel,ou mesmo no ato criativo de deixar uma pincelada solta num canto qualquer do quadro, mas precisamente por isso devemos fazer com que se aprecie a arte ao vivo. E melhor: que apreciemos o artista vivo em plena produção de seu trabalho, às vezes dificultosamente, e sempre solitariamente...

Meu tempo é o tempo que tenho que percorrer nesta época. Sem ele nada seria melhor do que uma cidade arrasada. Uma planície de mortos, uma conquista sangrenta sobre todos que nunca souberam o que era a real felicidade.

A arte que nuca precisou de escolas leva a criação de escolas verdadeiras. A escola que escolhe, no campo da arte, percorrer modelos em que a cópia é enaltecida é a pior coisa do mundo. Um nazi-fascismo que se aproveita de teorias que não levam a lugar algum, a não ser à morte da criatividade. À morte do ser –humano. À morte do mundo. E não há explicações ou mesmo teorias triangulares que possam explicar isso...- podem, sim: a morte contínua da arte na vida(?) das crianças e dos jovens.

Meus pinceis ficam me tentado a que eu as lambuze de tintas, meu coração bate no ritmo frenético das pinceladas. Um cobra é uma cobra, ou um guarda-roupa?
Um elefante é, no caso, um capricho de minha alma? Houve um tempo que me perguntava porque eu não enchia os meus quadros de cães. Mas porque não porcos, cogumelos e pregadores de roupa?... Por quê não o azul do lado de um vermelho vivo? Ou mesmo um ovo cavalgando minha alma?

Tudo me interessa. Se não agora, talvez num outro tempo...Nada é tão verdadeiro como a realidade em que estamos inseridos. Deixem que desgostem de nós, ou mesmo que nos matem. Meus pinceis focam que a pintura é a reconstrução de mundos possíveis, e que sem a arte, tornaria os homens e mulheres meros objetos dos prazeres de um Lúcifer que nos pinta com  suas cores de escuridade e guerras nossas pobrezas.

O bom gosto nasce de um erro. Outro erro é tentar justificá-lo.