segunda-feira, 23 de novembro de 2009

DESFAZENDO – SE

Tive que me desfazer do aparelho de som, depois minha televisão. A seguir desfiz-me das panelas, e das roupas mais caras. Parece que tudo compreende que devo me desfazer dos perfumes de minha mulher, da bicicletinha de minha filha. Desfiz – me também da geladeira, do fogão de casa, dos chuveiros, das toalhas, que minha mulher bordara, do sabão, das roupas sujas e usadas... desfiz – me dos sofás, das camas, dos retratos familiares, mesmo sem saber a quem serviriam... garfos, facas, aparelhos da cozinha. Dos dois cães e um peixinho( eu nunca gostei deles...).

Nunca satisfeito desfiz – me de minha mulher- me rendeu um preço considerável... Minha filha? Desfiz – me dela na noite em que aluguei um carro para levar o que sobrou de casa. Enfim, desfiz – me de tudo quanto pude e depois quando não sobrou nada, além de uma casa vazia, desfiz – me de mim mesmo. Isto por conta da cocaína, que me roubou tudo, e a vida veio me pedir algo além para me desatar.

Minha cova se fez rasa e morri sem mesmo ter alguém para chorar. Levaram minhas lágrimas nos olhos dos outros. Só uma observação e quem a fez foi o demônio. Ele ali todo de negro ao lado do meu esquife:

“Era um bom cliente, pena que vai se desfazer...”

Um comentário:

carmen silvia presotto disse...

Nestor!!!

"Levaram minhas lágrimas nos olhos dos outros..." Que belo verso, não quer se desfazer dele? Estou comprando!!!

Um abraço carinhoso

Carmen Silvia Presotto