terça-feira, 11 de janeiro de 2011

ONTEM


na noite nada clara
os montes em chamas chamam os ombros
amigos e amigas sonham uvas e ursos
yndiara e eu caminhamos pelas chamas

as dores flamam pesares
e  a voz que julga os verbos retoca
as vozes completas no país que é noite

o sol custa a nascer e nós nascemos
com as mãos dilaceradas pela mulher que se diz ontem

ontem
esteve na noite feroz com dentes
e voz
a noite cumpre navegar nas temperaturas
e nos roubaram os frutos sem termos fome

torturas atrozes esta mulher
antes de ser filha tem filho nenhum
sorri para outros chorarem
resguarda a face para nascerem meninas mortas

portas abertas e fechadas
curvas na lua na resma de pólen
sem flores ou amores

ela nos rouba a paz na violência
animal dizendo nas fezes circunstâncias
de sonos

só abre as portas e janelas incriminando
os minerais   as flores     os animais
sem perceber a farsa de suas facas
mutiladas
ela vislumbra o projeto de sombras
e colhe na vanglória a fome

sorri e sorri
sem ter hora
sem postergar as faces rosadas
meninas desiguais e inflamadas

gatos pululam e postam
mensagens de ontem em nossas caixas postais
rivalizando os ossos amigos

ela prejudica a chuva e teme
pelo sol desaparecido sem rumor ou sombra
sorri e naufragamos
em nossa carne sem voz

yndiara e eu percebemos as variações
o som das mudanças
no ciclo parado
o cenho desfeito   desfolhado   a fase primeira
da lua última

a face antes de desmoronar a nascer parado

custa perdurar na soleira e nas fachadas
das fechaduras
custa precisar o respeito pelas luvas antes dos crimes
uvas quadradas  quadriculadas pensam em nada
explodir as fachadas do céu sem estrelas

ontem a mulher no telefone
e coisas absurdas a seu filho nenhum diz
coisas absurdas completam seu nome de espera

os gatos partem para não dormir
os pássaros pensam que o véu do voo lhes sorri
não entendemos a captura
a morte no chão e os músculos
treinados pela ventania

ontem foi ontem na temperatura
desigual
fazendo-se milhas de distância
e procuras além

a fome dos pães célebres
eu e yndiara soubemos
e entendemos a face
de ontem
ela nada precisa  entender:

sua
voz
pronta a nascer
e a mentira
e as verdades amadurecidas e podres
preenchem  os espaços rancorosos

ontem enterrou a mãe
e hoje quer distender os braços
para não haver mais sinais

torturas feitas de voz
uvas passadas
a fome das mortes na procura
e ilhas e sóis
o nascer do sol na sintonia
de nascermos sós

eu e yndiara esquecemos
e ontem foi ontem   foi ontem
e não temos garantias
que saibam prever
o sol
lá que se ironiza
atrás das nuvens

Um comentário:

carmen silvia presotto disse...

Há um país que é noite, nele está o projeto de sombras e tu e Yndiara nos levam verso a verso a encontrar o sonho em que despertamos à vida.

Parabéns Nestor, este poema conVersa muito com quem aqui chegar.

Beijos e bom dia!