quinta-feira, 9 de julho de 2009

A DOENÇA E A SAÚDE

Como é estar-se doente? É o avesso a doçura, do avesso da estabilidade de se estar livre de enfermidades. Mas esta gripe tem o seu lado positivo, acho. É que ela me abre a possibilidade de entrever um outro mundo, não exatamente com os olhos da saúde, mas sim, da do doente. E como é estes olhares que focalizam o interior avariado, o corpo febril, a dor nos músculos. A voz desterrada? É uma visão quase sempre multifocal, enquanto que a nossa, normal, é parcial. Devendo ver o mundo desvendado, focalizo os olhos lacrimejantes e esboço um sorriso. A espera de que tudo pudesse acontecer, do lado escuro, do outro lado. Mas mais para lá do discurso que invade o coração e fica. Nietzsche sabia disso quando afirmava que o outro lado, o lado da doença, era um porção a ser estudada. E não simplesmente jogada na vala comum dos remédios e das consultas aos médicos. Uma porção do corpo está arruinado. Pesar vale ,ainda, como meio de sobrevivência ao corpo estiolado. Dores que surgem pelos poros a acontecem na medida em que o corpo produz um campo fértil de para a sua doença. Culpa do corpo, da mente, de nós mesmos. Se não nos purgássemos estaríamos em bons lençóis. Mas não. Acontece que vemos a doença como inimiga. São Francisco não chamava a morte de sua Irmã? E quanto mais a doença? E quanto mais os enfermos que não sabem, que são enfermos, mas doentes, da cabeça, dos membros, ou mesmo dos bolsos. Eis a pior doença. Aquela que ataca os nervos de quem não é filantropo, mas avaro, até os ossos.

***
O câncer tem sua peculiaridade. A fraqueza do câncer é a tomada de resolução em orientar a vida pelos caminhos do meio. Podem ser desertos, mas é a única saída. A que escolhe para o corpo a saúde e não a dor. Porque a dor- dói. E ninguém quer estar à sua mercê.

Supomos que todos irão morrer, mas é um só o cigarro. E depois desse outro, e outro, e outro, etc. O infinito dos cigarros põem termo à sua vida.

Comer frituras, tomar refrigerantes, ter uma dieta desagradável inquieta o coração e diverte a fadiga mental, a sexual e mesmo moral. Ou você não acha que nos libertamos do câncer quando temos a s rédeas de nossa vida em nosso coração?

Mas e as causas emocionais e as psíquicas, não valem? E a dor coletiva, não vale?

Claro que sim. Por que o mundo se assemelha a um corpo, visto do espaço, invadido por cânceres ( cidades humanas que não querem reconhecer-se como tal) A posição humana de querer controlar as vias econômicas sopra o caos na vida de quem nada sabe sobre caos/ordem/produção/lucro. Têm em mente apenas a côdea do pão que não foi dado. A água que veio mais macilenta. A dor nos pés sem sapatos...

A dor maior é ver que numa coletividade de pequenos meninos e meninas, tal como disse Saint - Exupéry, ao observar um comboio de imigrantes polacos pesadamente adormecidos: “ São os pequenos Mozarts que são mortos pelas engrenagens humanas...”

Enfim, tomados pelo desespero de olhos empapuçados o que leva consigo o câncer morre para que suas cinzas em forma de interrogação, faça na morte o que não fez em vida: a de inquirir do por que de tudo isso, meu irmão, minha irmã.

( alguns pensamentos nestorianos, etc...)

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