ANA LÚCIA CAVANI, CLÁUDIO WILLER, MARCO ANTÔNIO QUEIROZ( MARCO AQUEIVA)
Marco marcou com o Willer no hotel
em que ele, Cláudio Willer estava hospedado, às sete.
Me convidou para conversar com
Willer, coisa que não hesitei. Rumamos para o hotel. Lá Marco e eu ficamos
sabendo que ele estava no Restaurante Papagallo. Sem pestanejar fomos para o
restaurante, na Alameda Lucas Nogueira Garcês.
Quinta-feira dia 2 de outubro. No
Papagallo, eu e Marco Antônio- ou Marco Aqueiva- como gosta de ser conhecido
literariamente, poeta como eu, fizemos companhia para Cláudio Willer e Ana
Lúcia Cavani. Conversamos sobre amenidades, mas com uma certa dose de picardia, especialmente
por parte de Ana, que é uma figura emblemática, muito amiga de Willer. Ela
autora de livros sobre a loucura e a todo o tempo marcando presença na sua
visão sobre o desconcerto da loucura,
tão próxima da matéria do surrealismo.
Cláudio Willer ia no dia seguinte
para Campo Limpo a fim de realizar uma palestra, a serviço da Secretaria de Cultura do Estado de
São Paulo.
Nós achamos o cumulo que ele
estivesse em Atibaia e não faria ou tivesse marcado alguma coisa em nossa
cidade. É claro, ele não tem culpa alguma disso. Porém é notório que sua passagem
não fosse algo despercebida. Era bom que a Secretaria da Cultura se dispusesse
em acertar palestras, porque o cabedal cultural do poeta e ensaísta Cláudio
Willer é vasto, e eu acho que ele iria apreciar
e muito conversar com os produtores culturais aqui em Atibaia.
Willer é uma sumidade em matéria
do Surrealismo. Há tempos vem se debruçando sobre o movimento não tão francês
mais, mas tendo como aspecto fundamental uma adesão, digamos, mundial. André
Breton, o poeta-líder do movimento, na época que o encabeçou, dirigiu o
movimento surrealista de acordo com interesses que iam além do puramente
literário num engajamanto político e que marcou pela adesão ao marxismo e sua
filiação ao partido Comunista francês em meados da década de quarenta do século
passado. Mas Willer envolve-se na luta diária, fazendo oficinas e palestras
para despertar o ímpeto surreal das pessoas, combinado seus textos poéticos e
seus ensaios com a visão da contracultura e com o manancial surreal que envolve
a recriação de um mundo mais solidário e mais urgentemente diferente do que
este em que vemos atualmente.
Willer tem, no entanto, uma visão
perspicaz e profunda sobre a literatura de nosso tempo. Quando nossa conversa a
quatro bocas derivou para as editoras e para exclusivamente sobre os livros e
seu preço tão caro ele disse-nos coisas interessantes que proponho transcrever.
Os livros são tão caros no Brasil pelo fato de
terem sido super valorizados no preço no tempo da velha URV, na passagem para o
real. O Plano Real teve como referência monetárias do valor, e as editoras
agregaram um preço demais exorbitante, pois não levavam muita fé no Plano do governo Itamar. Assim, quando da passagem
para a moeda que ora está em circulação não tiveram o bom senso de retirar as taxas além-lucro de
suas previsões catastrofistas. Então os livros ficaram nos preços muito acima
da sua realidade, sendo que nosso país
tem os preços mais elevados no que confere os livros como um artigo de luxo.
- E olha que os livros são
isentos de impostos. Não há taxa de impostos no Brasil. Aí é uma questão que
envolve os editores e sua visão ou falta de visão e também as editoras que
querem ganhar de uma forma incompatível com o mercado consumidor – comentou
Cláudio Willer.
A conversa transcorreu animada,
com Willer e Ana perguntando a ele, insistentemente sobre o que ela não
entendia. Ficou um clima professoral e Willer com a imensa paciência falava-nos
sobre como era colocado a questão dos livros em outros países sul-americanos,
caso da Colômbia, Chile e Venezuela. O livro nestes países é algo de alcance
popular e não é como no Brasil, algo que uma minoria tem acesso. A cultura
desses países é de produção e popularização totais. E nós, infelizmente, de um
objeto ainda inacessível a largas camadas da população.
Num determinado momento fiz uma
caricatura de Cláudio Willer e mostrei a ele. Ana, muito judiciosa, disse que não estava
parecida:” Ele tem o rosto triangular e não retangular... Willer não se parece como um português e sim tem o rosto de
alemão”.
Aquilo me enervou e pedi para ver
mais de perto, ou melhor, de uma forma direta, já que ela estava do meu lado
direito da mesa e só a via de perfil. Disse
a ela que ela se parecia com a Glenn
Close.
- Aquela que queria cozinhar os
coelhos?
Na verdade, Ana se parecia fisionomicamente e muito com a
atriz norte-americana...
Logo a seguir, Cláudio ao comer o
seu prato de espaguete com chitaque e com os dois chopinhos, disse com satisfação:
-Estou como um poeta satisfeito e otimamente bem alimentado!
***
O final de nosso encontro foi
alegre e tendo em vista algumas rusginhas que não se tornaram mais sérias, Ana
disse-nos, a Marco e a mim, que era para telefonarmos, já que Willer não usa
celular. Nem dirige, mas há uma foto
dele em que dirige um jipe, há muitos anos atrás . Quem me disse isso foi o
Marco Aqueiva.
Um comentário:
Que belo encontro, vivas à Arte e Literatura que deve ter vertido ao momento.
Um beijo amigo, carinho e boa semana.
Carmen.
Postar um comentário