terça-feira, 29 de novembro de 2011

ENCONTRO COM O POETA CLÁUDIO WILLER EM ATIBAIA





















 ANA LÚCIA CAVANI, CLÁUDIO WILLER, MARCO ANTÔNIO QUEIROZ( MARCO AQUEIVA)




Marco marcou com o Willer no hotel em que ele, Cláudio Willer estava hospedado, às sete.
Me convidou para conversar com Willer, coisa que não hesitei. Rumamos para o hotel. Lá Marco e eu ficamos sabendo que ele estava no Restaurante Papagallo. Sem pestanejar fomos para o restaurante, na Alameda Lucas Nogueira Garcês.
Quinta-feira dia 2 de outubro. No Papagallo, eu e Marco Antônio- ou Marco Aqueiva- como gosta de ser conhecido literariamente,  poeta como eu,  fizemos companhia para Cláudio Willer e Ana Lúcia Cavani. Conversamos sobre amenidades, mas  com uma certa dose de picardia, especialmente por parte de Ana, que é uma figura emblemática, muito amiga de Willer. Ela autora de livros sobre a loucura e a todo o tempo marcando presença na sua visão sobre o desconcerto da  loucura, tão próxima da matéria do surrealismo.
Cláudio Willer ia no dia seguinte para Campo Limpo a fim de realizar uma palestra, a  serviço da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.
Nós achamos o cumulo que ele estivesse em Atibaia e não faria ou tivesse marcado alguma coisa em nossa cidade. É claro, ele não tem culpa alguma disso. Porém é notório que sua passagem não fosse algo despercebida. Era bom que a Secretaria da Cultura se dispusesse em acertar palestras, porque o cabedal cultural do poeta e ensaísta Cláudio Willer é vasto, e eu acho que ele iria apreciar  e muito conversar com os produtores culturais aqui em Atibaia.
Willer é uma sumidade em matéria do Surrealismo. Há tempos vem se debruçando sobre o movimento não tão francês mais, mas tendo como aspecto fundamental uma adesão, digamos, mundial. André Breton, o poeta-líder do movimento, na época que o encabeçou, dirigiu o movimento surrealista de acordo com interesses que iam além do puramente literário num engajamanto político e que marcou pela adesão ao marxismo e sua filiação ao partido Comunista francês em meados da década de quarenta do século passado. Mas Willer envolve-se na luta diária, fazendo oficinas e palestras para despertar o ímpeto surreal das pessoas, combinado seus textos poéticos e seus ensaios com a visão da contracultura e com o manancial surreal que envolve a recriação de um mundo mais solidário e mais urgentemente diferente do que este em que vemos atualmente.
Willer tem, no entanto, uma visão perspicaz e profunda sobre a literatura de nosso tempo. Quando nossa conversa a quatro bocas derivou para as editoras e para exclusivamente sobre os livros e seu preço tão caro ele disse-nos coisas interessantes que proponho transcrever.
Os  livros são tão caros no Brasil pelo fato de terem sido super valorizados no preço no tempo da velha URV, na passagem para o real. O Plano Real teve como referência monetárias do valor, e as editoras agregaram um preço demais exorbitante, pois não levavam muita fé no Plano  do governo Itamar. Assim, quando da passagem para a moeda que ora está em circulação não tiveram  o bom senso de retirar as taxas além-lucro de suas previsões catastrofistas. Então os livros ficaram nos preços muito acima da sua  realidade, sendo que nosso país tem os preços mais elevados no que confere os livros como um artigo de luxo.
- E olha que os livros são isentos de impostos. Não há taxa de impostos no Brasil. Aí é uma questão que envolve os editores e sua visão ou falta de visão e também as editoras que querem ganhar de uma forma incompatível com o mercado consumidor – comentou Cláudio Willer.
A conversa transcorreu animada, com Willer e Ana perguntando a ele, insistentemente sobre o que ela não entendia. Ficou um clima professoral e Willer com a imensa paciência falava-nos sobre como era colocado a questão dos livros em outros países sul-americanos, caso da Colômbia, Chile e Venezuela. O livro nestes países é algo de alcance popular e não é como no Brasil, algo que uma minoria tem acesso. A cultura desses países é de produção e popularização totais. E nós, infelizmente, de um objeto ainda inacessível a largas camadas da população.
Num determinado momento fiz uma caricatura de Cláudio Willer e mostrei a ele. Ana,  muito judiciosa, disse que não estava parecida:” Ele tem o rosto triangular e não retangular... Willer não se  parece como um português e sim tem o rosto de alemão”.
Aquilo me enervou e pedi para ver mais de perto, ou melhor, de uma forma direta, já que ela estava do meu lado direito da mesa e só a via de perfil. Disse  a ela que ela se parecia com a Glenn  Close.
- Aquela que queria cozinhar os coelhos?
Na verdade,  Ana se parecia fisionomicamente e muito com a atriz norte-americana...
Logo a seguir, Cláudio ao comer o seu prato de espaguete com chitaque e com os dois chopinhos,  disse com satisfação:
-Estou como um poeta  satisfeito e otimamente bem alimentado!
***
O final de nosso encontro foi alegre e tendo em vista algumas rusginhas que não se tornaram mais sérias, Ana disse-nos, a Marco e a mim, que era para telefonarmos, já que Willer não usa celular. Nem dirige,  mas há uma foto dele em que dirige um jipe, há muitos anos atrás . Quem me disse isso foi o Marco Aqueiva.




Um comentário:

carmen silvia presotto disse...

Que belo encontro, vivas à Arte e Literatura que deve ter vertido ao momento.

Um beijo amigo, carinho e boa semana.

Carmen.