À Marta Alvim
Entre todos os aromas, os mais refrescantes: aroma de amoras
em pé de guerra; aroma de Roma sem catacumbas; aromas de voz em tom de hortelã;
aurora de noz em tempo de fome; aroma de sombra no perfume do sal.
Minha toda ela alegria se ria ao encontrar no vórtice de tua
ausência o perfume da inocência.
Ainda se ria de todos que se riam, de mais do que todos se
riam do aroma do sono na penumbra. Torno-me a procurar-te na funda cava dos
olhos que sonham a noite. Num rio e seu aroma de peixes e fome de sopas de
peixes, ostras e camarões gigantes ainda vivos.
Minha fome desanca a
intempéries dos aromas das ruas. Da minha cidade, das padarias criando a fome
de pães, do café moído, das noites das horas compostas em sua redundância
macia. Café, pão-fome destacada pela macia prova de uma manhã.
A sobra dessa sobra de sombrear outros paladares não me
convence, pois tudo devemos ao perfume, a obra custosa das flores acompanhando os prados e os campos
devendo suas cores à amarelescência
forte de todos os odores. E leite e mel.
Minha fome de estacas refuta o sangue coagulado. Este que
cheiro assim meio ao lunfardo. Os ossos cheiram
à podridão; cheiro que atrai moscas e urubus. Gente que nunca é gente, mas
fornalhas de corrupção. Introvertidos de vida contraem dívidas com solidão.
Espíritos atraídos pelo arroubo dos sentidos desconexos, dos sentidos
embriagados de morte e vaticínios. Da morte e sua sina em significar ao
apodrecer indesejada.
O cheiro da morte causa confusão, desenlace. Solidão tem
odores de cortinas rasgadas e cheias de mofo. Cheiro de casas abandonadas, ou
de velhos que nunca se banharam de novo; pior é sentir a boca com o dente
cariado. E beijá-lo sem nojo.
Crianças tem cheiro de talco, de leite sem ou com açúcar, de
banho tomado. De novidade. Suas mães dão a elas o foro especial de concluírem
os ventos que serpenteiam as válvulas de escape da família. As famílias
familiares do sopro de vida.
As meninas moças saem pelas janelas dos quartos, no assombro
de sua velocidade perfumada, de sua alteridade impensada, de sua relutância
sossegada.
Minha mulher cobre-me de perfumes insólitos. Roupas lavadas
e centrifugadas em lençóis mornos. Os
dia passam entre perfumes que se mantém estáticos. Lanças vivas em meu
corpo.
Há alguns seres que não mantêm em sua sina o corpo do odor.
São eles, mas não mais do que insuficientes em existir: o gelo, o diamante, as
unhas, a dor.
O coração aventa dentro seus perfumes na correnteza morna.
Fluidos de corações entre a fortaleza. É ele o perfume da vida construído se
doado. Se doado ele é o perfume nascendo para a vida de outros. E salvado do
nada os corações e corpos antes vazios de tudo e todos. A vida prescinde do
coração-dele provém a vida em sua caudalosa instância de existirmos. Perfumes
ricos em significados. Caetano cantou:“Existirmos- a que será que se destina?...”
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