segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O NATAL DE ALICE



  
Alice via nas estrelas desejos. Um desejo dela que há muito tempo foi um pedido para uma estrela  distante. Alice saía para o jardim e quando o sol abaixava queria descobrir sempre  a primeira das estrelas. E as estrelas a descobriram.
O espírito de uma estrela, da  constelação de Pégaso,  quis fazer uma surpresa para  a menina tão diferente das demais. A estrela a observava também a cada por de sol. O espírito bondoso  achava a menina muito magra, mal vestida, com trapinhos, rosto muito branco, sempre com sua bonequinha Mimi à mão. A mãe de Alice havia morrido de peste e seu pai casara com uma mulher perversa, má e estúpida. Ela fazia com que Alice desde muito pequena tivesse que ajudar na casa, a limpar, cozinhar e passar. Seu pai ficou cego e não podia fazer nada para mudar a situação.
A estrela se transformou, um dia, ao descer a terra como  um velho sábio. Era véspera  da noite de Natal e Alice como sempre ficou satisfeita só ao enxergar todas as estrelas do céu. Fazia frio naquele começo de  noite e a menina estava descalça.
Um velho muito alto e barbudo tocou no bracinho magro da menina que se assustou. Ele a tranquilizou.
- Menina, não fique intranquila...
- Quem é o senhor?
- Sou alguém que nota em pessoas como você  uma grande tristeza e tenta ajudar.
-Ajudar? Como assim? – Alice se virou e tentou ver se havia alguém mais olhando, quando reparou que os flocos de neve haviam parado no ar, como por encanto.
- Não se incomode,  Alice. Na verdade eu  trago uma resposta para  o pedido que você fez o ano passado, nesta mesma época. No Natal passado.
Aí Alice se lembrou do pedido àquela estrela que primeiro aparecia no céu quando do por do sol. O velho homem continuou:
- Você sabe que as pessoas que sofrem neste mundo são muito preciosas para Deus?
Uma nota de alegria esboçou-se no rosto pálido da menina. Ela acenou que sim.
-Então, Alice, venho lhe trazer esta caixa que poderá ser aberta  somente quando seu pai falar  a palavra mais importante, e quando sua madrasta disser a palavra mais bonita. Você vai ter que saber quando eles falarão. E abrirá a caixa, como disse. E de dentro dela você poderá ter realizado  o seu desejo como sempre esperou.
O homem deu à menina a caixa de madeira que parecia não ter tampa. Era maciça e tinha um cheiro de pino. Era de cor de madeira sem tirar ou pôr nada além.
A menina pegou a caixinha que podia encerrar algo bem pequeno, como um botão de camisa ou uma semente de carvalho. Enfiou-a no bolso da saia puída. Mas ao tentar agradecer o velho homem ele havia desaparecido.
-Alice, saia da neve. Venha para dentro, está na hora de dormir! Amanhã terá muito o que fazer!
Era sua madrasta que chamava.
Alice só olhou para cima com seus grandes olhos negros para tentar ver a estrela que sempre tinha brilhado para ela nos  céus extremamente escuros do inverno.
Foi assim tentar dormir, agradecendo ao homem velho e barbudo aquela estranha caixa que ele lhe dera. Cobriu  a bonequinha de palha de milho  e fechou os olhos.
Abriu os olhos novamente: foi só aí que pela janela Alice percebeu que os flocos de neve caiam. Não estavam mais congelador e parados no ar.

Alice acordara com a voz estridente de sua madrasta. Ela dormia com as outras filhas da mulher, Devorah e Elisa. Ela era a menor das três, mas por ser filha da mulher que sua madrasta dizia ser uma “inútil” ela jogava no rosto de Alice todo a espécie de impropérios e de palavras mal educadas.
-Alice, vamos, sua menina preguiçosa, levante-se, vai ter que limpar o chão imundo, depois do café.
O pai de Alice estava na mesa. Ele tinha sérias dificuldades em se acostumar com a cegueira. Tinha sido um bom ferreiro e aí veio a doença que o deixou cego. Antes já estava casado com  Evellin, a madrasta de Alice, e ela só não o deixou porque também não tinha para onde ir. Pelo menos a casa em que viviam era do senhor Adolfo e era uma boa moradia, embora muito pobre.

Na mesa, Alice se lembrou das palavras da noite anterior do homem que lhe deu a  caixinha. De si para si ela repetia que deveria estar alerta. Que enquanto ela ouvia a conversa ela deveria observar quando seu pai deveria dizer a palavra mais importante e sua madrasta a mais bonita. Mas como saber disso? Como avaliar qual seriam estas palavras se eles poderiam falar palavras e ela poderia interpretá-las mal?...
- Evellin, por que  está tão frio?
-Ora, é que  é inverno. É natural o frio, Adolfo.
-Deus nunca faz as coisas sem uma razão de ser.
-Sim. Dizem que Deus é Pai.
Alice olhou para as duas meio - irmãs que  brigavam por um pedaço de pão na mesa. Tudo parecia parado. Se lembrou das palavras,  mais uma vez,  do velho homem sábio. E deixou soltar um grito. Todos se viraram para ela. “ As palavras aconteceram, mas sempre eles falam a mesma coisas, só que eu ouvi isso de forma diferente hoje”, pensava.
Ela tirou do bolso a caixinha e observou que  uma tampa apareceu por encanto. Logo as meninas olhavam com espanto para a caixinha e o pai e a madrasta também. Ela parecia irradiar  intensamente. E Alice  a abriu.
Uma luz intensa espalhou-se pela cozinha da casa rústica. Depois uma pequena estrela brilhava e flutuava, saída da caixa,  com todas as cores do arco-íris. Ela ecoava na cabeça de todos  na mesa dizendo que estava ali para dar  a cada um o que mereciam as dádivas do céu. Ela iria dar a cada  um  o que mais queriam, não da forma que eles poderiam pedir mas como a estrela brilhante interpretava os pedidos e suas intenções vindas do fundo do coração. E os pedidos não poderiam ser avarento,  egoístas, ou ruins.
A madrasta de Alice tornou-se uma estátua de gelo.
As meninas, meio irmãs de Alice, tornaram-se, uma um sapo, e a outra um cactos.
O pai de Alice tornou-se feliz,   mesmo com a cegueira.
E Alice teve restituída sua mãe vinda do outro mundo.
A estrela saída da caixinha  partiu atravessando as paredes da casa. Do lado de fora, o velho e sábio homem estava olhando tudo com muita atenção pela janela e pode perceber que o natal daquela família seria inesquecível. A menina Elisa  tinha o coração puro e por isso seu pedido foi realizado- sua mãe voltara do mundo dos mortos.
O velho homem satisfeito e com um grande sorriso deixou a terra e rumou para  o céu.
Como memorial daquele natal, a caixinha permaneceu em cima da mesa, vazia;  e os corações cheios de alegria e júbilo  não cabiam mais em si.

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