Alice via nas estrelas desejos.
Um desejo dela que há muito tempo foi um pedido para uma estrela distante. Alice saía para o jardim e quando o sol
abaixava queria descobrir sempre a primeira
das estrelas. E as estrelas a descobriram.
O espírito de uma estrela, da constelação de Pégaso, quis fazer uma surpresa para a menina tão diferente das demais. A estrela
a observava também a cada por de sol. O espírito bondoso achava a menina muito magra, mal vestida, com
trapinhos, rosto muito branco, sempre com sua bonequinha Mimi à mão. A mãe de
Alice havia morrido de peste e seu pai casara com uma mulher perversa, má e estúpida.
Ela fazia com que Alice desde muito pequena tivesse que ajudar na casa, a
limpar, cozinhar e passar. Seu pai ficou cego e não podia fazer nada para mudar
a situação.
A estrela se transformou, um dia,
ao descer a terra como um velho sábio.
Era véspera da noite de Natal e Alice
como sempre ficou satisfeita só ao enxergar todas as estrelas do céu. Fazia frio
naquele começo de noite e a menina
estava descalça.
Um velho muito alto e barbudo
tocou no bracinho magro da menina que se assustou. Ele a tranquilizou.
- Menina, não fique
intranquila...
- Quem é o senhor?
- Sou alguém que nota em pessoas
como você uma grande tristeza e tenta
ajudar.
-Ajudar? Como assim? – Alice se
virou e tentou ver se havia alguém mais olhando, quando reparou que os flocos
de neve haviam parado no ar, como por encanto.
- Não se incomode, Alice. Na verdade eu trago uma resposta para o pedido que você fez o ano passado, nesta
mesma época. No Natal passado.
Aí Alice se lembrou do pedido
àquela estrela que primeiro aparecia no céu quando do por do sol. O velho homem
continuou:
- Você sabe que as pessoas que
sofrem neste mundo são muito preciosas para Deus?
Uma nota de alegria esboçou-se no
rosto pálido da menina. Ela acenou que sim.
-Então, Alice, venho lhe trazer
esta caixa que poderá ser aberta somente
quando seu pai falar a palavra mais
importante, e quando sua madrasta disser a palavra mais bonita. Você vai ter
que saber quando eles falarão. E abrirá a caixa, como disse. E de dentro dela
você poderá ter realizado o seu desejo
como sempre esperou.
O homem deu à menina a caixa de
madeira que parecia não ter tampa. Era maciça e tinha um cheiro de pino. Era de
cor de madeira sem tirar ou pôr nada além.
A menina pegou a caixinha que
podia encerrar algo bem pequeno, como um botão de camisa ou uma semente de
carvalho. Enfiou-a no bolso da saia puída. Mas ao tentar agradecer o velho
homem ele havia desaparecido.
-Alice, saia da neve. Venha para
dentro, está na hora de dormir! Amanhã terá muito o que fazer!
Era sua madrasta que chamava.
Alice só olhou para cima com seus
grandes olhos negros para tentar ver a estrela que sempre tinha brilhado para
ela nos céus extremamente escuros do
inverno.
Foi assim tentar dormir,
agradecendo ao homem velho e barbudo aquela estranha caixa que ele lhe dera.
Cobriu a bonequinha de palha de
milho e fechou os olhos.
Abriu os olhos novamente: foi só
aí que pela janela Alice percebeu que os flocos de neve caiam. Não estavam mais
congelador e parados no ar.
Alice acordara com a voz
estridente de sua madrasta. Ela dormia com as outras filhas da mulher, Devorah
e Elisa. Ela era a menor das três, mas por ser filha da mulher que sua madrasta
dizia ser uma “inútil” ela jogava no rosto de Alice todo a espécie de
impropérios e de palavras mal educadas.
-Alice, vamos, sua menina
preguiçosa, levante-se, vai ter que limpar o chão imundo, depois do café.
O pai de Alice estava na mesa.
Ele tinha sérias dificuldades em se acostumar com a cegueira. Tinha sido um bom
ferreiro e aí veio a doença que o deixou cego. Antes já estava casado com Evellin, a madrasta de Alice, e ela só não o
deixou porque também não tinha para onde ir. Pelo menos a casa em que viviam
era do senhor Adolfo e era uma boa moradia, embora muito pobre.
Na mesa, Alice se lembrou das
palavras da noite anterior do homem que lhe deu a caixinha. De si para si ela repetia que
deveria estar alerta. Que enquanto ela ouvia a conversa ela deveria observar quando
seu pai deveria dizer a palavra mais importante e sua madrasta a mais bonita.
Mas como saber disso? Como avaliar qual seriam estas palavras se eles poderiam
falar palavras e ela poderia interpretá-las mal?...
- Evellin, por que está tão frio?
-Ora, é que é inverno. É natural o frio, Adolfo.
-Deus nunca faz as coisas sem uma
razão de ser.
-Sim. Dizem que Deus é Pai.
Alice olhou para as duas meio - irmãs
que brigavam por um pedaço de pão na mesa.
Tudo parecia parado. Se lembrou das palavras,
mais uma vez, do velho homem
sábio. E deixou soltar um grito. Todos se viraram para ela. “ As palavras
aconteceram, mas sempre eles falam a mesma coisas, só que eu ouvi isso de forma
diferente hoje”, pensava.
Ela tirou do bolso a caixinha e
observou que uma tampa apareceu por
encanto. Logo as meninas olhavam com espanto para a caixinha e o pai e a
madrasta também. Ela parecia irradiar intensamente. E Alice a abriu.
Uma luz intensa espalhou-se pela
cozinha da casa rústica. Depois uma pequena estrela brilhava e flutuava, saída
da caixa, com todas as cores do arco-íris.
Ela ecoava na cabeça de todos na mesa
dizendo que estava ali para dar a cada
um o que mereciam as dádivas do céu. Ela iria dar a cada um o
que mais queriam, não da forma que eles poderiam pedir mas como a estrela
brilhante interpretava os pedidos e suas intenções vindas do fundo do coração.
E os pedidos não poderiam ser avarento, egoístas, ou ruins.
A madrasta de Alice tornou-se uma
estátua de gelo.
As meninas, meio irmãs de Alice, tornaram-se,
uma um sapo, e a outra um cactos.
O pai de Alice tornou-se feliz, mesmo
com a cegueira.
E Alice teve restituída sua mãe
vinda do outro mundo.
A estrela saída da caixinha partiu atravessando as paredes da casa. Do
lado de fora, o velho e sábio homem estava olhando tudo com muita atenção pela
janela e pode perceber que o natal daquela família seria inesquecível. A menina
Elisa tinha o coração puro e por isso
seu pedido foi realizado- sua mãe voltara do mundo dos mortos.
O velho homem satisfeito e com um
grande sorriso deixou a terra e rumou para o céu.
Como memorial daquele natal, a
caixinha permaneceu em cima da mesa, vazia;
e os corações cheios de alegria e júbilo
não cabiam mais em si.
Nenhum comentário:
Postar um comentário