Minha pintura nada mais é do que a resposta às perguntas frequentes sobre o que fazemos, no campo das artes, sobre a vida que levamos.
Deram várias respostas a isso, sei, mas nada mais corajoso do que formular a pergunta principal: “ O que fazer de novo na pintura, já que tudo, parece, está feito e exaurido porque acabado?”
Nada mais comum do que silenciar e ser um mero apreciador das artes do já-feito. Porém eu me disponho a refazer perguntas universais e tento respondê-las com meu trabalho.
Trabalhoso trabalho, sem pleonasmos, porém com aplicação redobrada, ponho em cheque o que permanece à vista das pessoas que há muito acompanham minhas atividades artísticas.
Assim, reordeno a realidade, nas minhas pinturas, percorrendo nada mais nada menos do que uma vida dedicada à arte da pintura e dos desenhos, em relação à profundeza humana e tento encontrar nas essências da intuição substancias para responder minhas indagações sobre a vida e as pessoas que são acompanhantes nesta vida.
Acho que naturalmente a vida vai dando respostas providencias às nossas perguntinhas tipo: o que fazer se tudo não exige inquirições? Ou, O que fazer em face dos meios massacrantes da comunicação que apesar da multiplicidade levam invariavelmente ao descaso, à alienação, ao pesar por conta das várias violências sofridas neste mundo. E o que nos reserva sem pensar sobre estas coisas?
Acho que as respostas a isto tudo no fazer constante, disciplinado, e motivador: ao ver meu atelier abarrotado de quadros sem o devido escoamento, felicito-me pela abundância de coisas, mas, ao mesmo tempo, tenho a ânsia de criar. De uma maneira selvagem, articulando no meu interior, a pintura reflete uma harmonia, comigo e com o cosmos. Tenho uma ânsia em compartilhar, também. Não me sinto mais peregrino nessas andanças pelo mundo e as pessoas me são caras porque são objetos de minha pesquisa crítica sobre tudo e todos. E nunca estou só. Apesar de estarmos, na contemporaneidade pós-moderna, nada existe sem as perquirições sobre o que fazemos no aqui e agora. Gosto de dizer que o artista que não for de sua época não é de nenhuma outra. Picasso já nos disse algo assim. E ver que os mestres do passado ainda pulsam em seus quadros, esculturas e demais obras, estão vivos e nos falam, ainda, de uma forma viva e espirituosa. Meus queridos companheiros são os autores que procuramos tentar não ver. Se não, nas apostilas de um livro que enfeiam a vida tentando substituir com cópias imperfeitas as obras vivas daqueles “mortos” que sobrevivem nos museus e galerias. Não sou purista nem burro em afirmar que as reproduções não são importantes, mas acontece que nada explica o contato com a obra de um autor que utilizou seu corpo e mente, suas aspirações e sentimentos ao usar o pincel,ou mesmo no ato criativo de deixar uma pincelada solta num canto qualquer do quadro, mas precisamente por isso devemos fazer com que se aprecie a arte ao vivo. E melhor: que apreciemos o artista vivo em plena produção de seu trabalho, às vezes dificultosamente, e sempre solitariamente...
Meu tempo é o tempo que tenho que percorrer nesta época. Sem ele nada seria melhor do que uma cidade arrasada. Uma planície de mortos, uma conquista sangrenta sobre todos que nunca souberam o que era a real felicidade.
A arte que nuca precisou de escolas leva a criação de escolas verdadeiras. A escola que escolhe, no campo da arte, percorrer modelos em que a cópia é enaltecida é a pior coisa do mundo. Um nazi-fascismo que se aproveita de teorias que não levam a lugar algum, a não ser à morte da criatividade. À morte do ser –humano. À morte do mundo. E não há explicações ou mesmo teorias triangulares que possam explicar isso...- podem, sim: a morte contínua da arte na vida(?) das crianças e dos jovens.
Meus pinceis ficam me tentado a que eu as lambuze de tintas, meu coração bate no ritmo frenético das pinceladas. Um cobra é uma cobra, ou um guarda-roupa?
Um elefante é, no caso, um capricho de minha alma? Houve um tempo que me perguntava porque eu não enchia os meus quadros de cães. Mas porque não porcos, cogumelos e pregadores de roupa?... Por quê não o azul do lado de um vermelho vivo? Ou mesmo um ovo cavalgando minha alma?
Um elefante é, no caso, um capricho de minha alma? Houve um tempo que me perguntava porque eu não enchia os meus quadros de cães. Mas porque não porcos, cogumelos e pregadores de roupa?... Por quê não o azul do lado de um vermelho vivo? Ou mesmo um ovo cavalgando minha alma?
Tudo me interessa. Se não agora, talvez num outro tempo...Nada é tão verdadeiro como a realidade em que estamos inseridos. Deixem que desgostem de nós, ou mesmo que nos matem. Meus pinceis focam que a pintura é a reconstrução de mundos possíveis, e que sem a arte, tornaria os homens e mulheres meros objetos dos prazeres de um Lúcifer que nos pinta com suas cores de escuridade e guerras nossas pobrezas.
O bom gosto nasce de um erro. Outro erro é tentar justificá-lo.
Um comentário:
Querido Nestor, que nunca te faltem perguntas, assim teremos mais de tua arte.
Um beijo amigo.
Carmen Silvia Presotto
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